Com uma reserva que representa 12% da água doce do mundo, o Brasil se formou com a ideia no imaginário popular de que a água é, e sempre será, abundante por aqui. A realidade, porém, resiste em obedecer ao senso comum, e algumas áreas em diversos estados têm sofrido com a seca.
Como grandes consumidores em áreas urbanas, os condomínios têm papel fundamental na mudança dessa mentalidade, e o Dia Mundial da Água (22/03) pode servir de impulso para que novas atitudes sejam tomadas por moradores e síndicos.
Num país em que cerca de 40% da água tratada é perdida, deve-se atentar ainda mais para os vazamentos. No caso de casas e edifícios, o recomendado é fazer inspeções periodicamente para checar os encanamentos, bombas d’água e torneiras. “Uma carrapeta de torneira, pequena e de borracha, sai por apenas R$ 1, mas representa a economia de dezenas de litros de água”, aponta o gerente geral de condomínios Jean Carvalho. Em alguns casos, a seriedade do vazamento vai além do desperdício, chegando a causar infiltrações e comprometer a estrutura do imóvel. Outro “ralo” muito comum de água limpa são as mangueiras, usadas em limpezas e regar jardins, mais eficientes, são os velhos e baratos baldes e regadores, excelentes para usar somente o necessário de água. A fonte do líquido para essas tarefas não precisa ser o encanamento de água tratada, a chuva e a chamada “água cinza” proveniente das máquinas de lavar e banhos, por exemplo podem ajudar a reduzir o consumo e, de quebra, a conta de água também.
No caso das águas pluviais, condomínios com uma boa área para captação e armazenamento em cisternas podem sentir mais os benefícios econômicos das medidas, mesmo os menores, situados em áreas mais densamente ocupadas, podem utilizar tonéis tampados de 200 litros acoplados às calhas. A cidade também agradece. “Em áreas urbanas, com solo impermeabilizado por cimento e asfalto como no caso São Paulo, toda essa água seria despejada nas ruas, onde muitas vezes não encontra vazão e causa enchentes”, explica Carvalho.
Um sistema mais robusto de aproveitamento de água da chuva pode ser mais fácil de ser implementado nos condomínios mais novos, que podem até já dispor de uma estrutura prévia pronta. Com armazenamento em cisternas e um conjunto de filtros e peneiras para retirar as impurezas e uma pastilha de cloro para desinfecção, pode-se até colocar essa água à disposição dos condôminos, para descarga de sanitários, por exemplo. “Em prédios antigos, pode ser viável a separação da coluna de água sanitária”, diz Jean Carvalho. Em Hong Kong, por exemplo, essa é a norma: 80% da população conta com sistemas semelhantes, só que com o uso de água salgada.
Um esquema semelhante pode ser aplicado para o reaproveitamento da “água cinza”, propícia para a limpeza de áreas comuns. Essas partes do condomínio, principalmente as de lazer (churrasqueiras, salões de festa, saunas, piscinas) também costumam originar grandes dispêndios de água e podem ter seu uso restringido em momentos de crise hídrica. No entanto, as piscinas, por exemplo, podem ser uma fonte de água para reuso, outra dica é cobri-las, para evitar evaporação.
Os moradores também podem ter papéis ativos na mudança de mentalidade em relação à água. Em alguns condomínios a individualização de água, se viável, também é uma excelente opção, pois geralmente reduz o consumo de todos, fazendo compensar o investimento. Nos flexíveis das torneiras e nos anéis dos chuveiros, pode-se colocar redutores de vazão, nas bicas, os arejadores, contribuem para uma grande economia. Voltando aos vasos sanitários, hoje existem no mercado descargas com dois tipos de vazão: 24 litros, para sólidos, e seis, para líquidos. Portanto, a cada uso, podem ser economizados até 18 litros de água limpa que iriam diretamente para o esgoto.
Segundo um relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2015, cerca de dois terços da população mundial podem ser atingidas pela escassez de água até 2050. Os números alarmam para a gravidade do cenário atual. Jean Carvalho acredita que os condomínios têm tudo para contribuírem para o uso racional da água. “Morar em coletividade otimiza não só a estrutura, como os recursos necessários para viver”, diz. “Adensar as moradias nas grandes cidades também é uma necessidade de planejamento urbano, já que pressupõe a liberação de mais áreas com solo permeável, propícias à penetração da água da chuva até os lençóis freáticos”, completa o gestor.
Assessoria de comunicação