Recentemente, nos deparamos com mais um quadro triste da engenharia nacional, o colapso total do Edificio Andrea em Fortaleza/CE, com vítimas fatais e isso inclui a síndica do condomínio, realmente uma tragédia.
No momento do colapso, todo o alto escalão da engenharia nacional de estruturas de concreto estava reunido em Fortaleza/CE, inclusive o autor desse texto, para o 61º Congresso Brasileiro do Concreto. Foi consenso entre nós, reforçado pelo atual Presidente do Instituto, Eng. Julio Timerman, que era necessário evitar declarações apressuradas, com o intuito de não causar mais pânico numa situação de extrema comoção pública. É importante informar aqui que, além de atividades institucionais, o Ibracon tem oferecido regularmente cursos de inspetores de obras de arte especiais, com carga horária representativa e quadro renomado de professores especialistas, a fim de formar e habilitar engenheiros em inspeções em diversos tipos de edificações.
Na mesma manhã do colapso recebi uma ligação do responsável pela edição deste veículo de informação com a intenção de saber a possibilidade de como alertar os síndicos e leitores do Jornal do Síndico e, nesse exato momento, eu pensei sobre a problemática da bola de cristal. Pois bem, quantas edificações por aí devem estar em mesma situação ou até pior que a do Edificio Andrea que colapsou, seja de conhecimento ou não? Até para engenheiros especializados e experientes é muito complicado determinar um plano de ensaios(exames) para se obter um diagnóstico preciso sobre o estado real de uma edificação. É bem verdade que muitas vezes a questão dos preços de inspeções e ensaios são discutidos em infinitas assembleias com questões desnecessárias e postergações de aprovação dos serviços, sendo que o problema patológico não estaciona durante esse período e geralmente é emergencial.
Sempre testemunho duas situações nesses casos de infortúnio(colapsos), a primeira representada por síndicos que lamentam profundamente o ocorrido, mas estão conscientes que possuem um plano de inspeções e manutenções, amparado por especialistas, a fim de se evitar uma situação do tipo ou agir com uma ação corretiva em tempo. A outra(e pior) é quando um grupo de síndicos(seja por despreparo, ingenuidade, desconhecimento, omissão, negligência ou até imprudência, não importa) é tomado por desespero e leva a cabo uma infinidade de contatos e telefonemas, a fim de se resguardar ou encontrar “alguém” que forneça um diagnóstico “positivo” com uma inspeção visual precária, mas suficiente para tranquilizar todo mundo e que ainda, o melhor, que esse mesmo “alguém” irá se “responsabilizar” por isso. É isso que realmente desejamos ou o que de fato é de interesse é uma opinião assertiva e comprobatória das condições da edificação?
Na verdade, não temos bola de cristal… E também não precisamos de “responsáveis” somente para jogar a culpa quando um problema de fato ocorre. Certa vez, após o colapso ocorrido no Edifício Liberdade no Rio de Janeiro em 2012, eu recebi um telefonema de um síndico de um condomínio para a produção de um “Laudo Estrutural” para saber das condições de segurança e durabilidade da edificação. Pois bem, eu adiantei que precisava visitar a edificação e que uma série de ensaios seriam necessários, a ser definido nessa primeira visita e, que dependendo dos resultados de ensaio a amostragem parcial incialmente proposta, não tinha como prever se haveria necessidade de mais ensaios ou até de intervenções de reforço estrutural ou de manutenção preventiva e corretiva. Também expliquei que gostaria de abrir algumas fundações para verificar as condições reais das mesmas e que somente assim conseguiria elaborar um parecer fidedigno sobre a segurança e durabilidade da edificação, da qual ele desejava. Tratava-se de uma edificação antiga com idade avançada, sem registros de projetos e outras informações valiosas da construção. Na mesma hora, fui interrompido pelo síndico que disse que eu não estava entendendo a solicitação e que era “somente” um laudo verificando as condições da estrutura dando uma boa “olhada” e que isso era uma prática comum no mercado e que precisava de mais uma proposta para questões de comparativo de preços. Imediatamente agradeci e disse que não prestava aquele tipo de serviço.
Como um médico consegue só de olhar um paciente, dizer que as condições de saúde dele estão boas? Impossível, serão necessários uns exames, dos mais simples como de sangue, raio-X, até outros mais complexos a depender da complexidade do quadro encontrado. Erros acontecem, mas eles seguem protocolos rigorosos nesses procedimentos. Quantas vezes não nos deparamos com casos surpreendentes em que uma dor de cabeça era o início de um AVC ou que uma falta de ar era um princípio de infarto? Pois é, médico também não tem bola de cristal! Eles solicitam ensaios (exames) para os seus diagnósticos. Sem considerar ainda as doenças assintomáticas, que por vezes são detectadas num check-up de rotina ou num outro exame despretensioso, justamente orientados por um médico, que seguem a seguinte premissa: “quanto antes detectada a doença, maiores as chances de cura…”. Isso é fato também na engenharia, inclusive na parte financeira. A intervenção precoce ainda no início da manifestação patológica é comprovadamente menos onerosa e tem mais chance de ser efetiva e duradoura, enquanto postergar a intervenção significa onerar exponencialmente.
Se não mudarmos a postura de se prever um programa de manutenções preventivas e corretivas, envolvendo inspeções simples até detalhadas, com o envolvimento de empresas e profissionais sérios ou pelo menos habilitados e especializados para as questões de patologia das edificações, continuaremos a assistir casos de colapsos estruturais. As edificações precisam sim de plano de saúde e monitoramento de suas condições de uso, tema esse que publicaremos na próxima edição.
Eng. Carlos Amado Britez
Pós-doutor pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo