Que a pandemia do novo coronavírus trouxe mudanças na rotina dos síndicos, isso é inegável, mas é fato que uns foram mais atingidos que outros. A dimensão desses impactos, contudo, foi determinada com certeza por alguns fatores, sendo os principais: o tamanho do prédio, número de unidades ocupadas e a população que ele abriga.
Fomos em busca de dois exemplos que ilustram bem como os efeitos da pandemia desafiaram, em diferentes escalas, síndicos de condomínios de pequeno e grande porte. O primeiro deles: a servidora pública Cely Modesto, 29 anos, avalia que o período de pandemia tem sido vivido de forma razoável no condomínio por ela gerido, o residencial Príncipe da Paz, localizado no bairro Bancários em João Pessoa (PB). Isso ela atribui ao fato de o prédio ser pequeno (apenas 10 unidades) e estar esvaziado, pois 60% dos moradores viajou no início da pandemia, em março.
“Acredito que se tivéssemos uma população maior eu lidaria com mais problemas, principalmente de desgaste com os condôminos, porque é muito difícil convencer as pessoas a obedecerem às normas de higiene e segurança. Mesmo com tão pouca gente no prédio, ainda há quem negligencie os riscos”, relata Cely. Outra mudança que demandou esforço foi a higienização, que se tornou mais cuidadosa: “No momento em que a funcionária responsável por essa tarefa está executando a limpeza, aviso a todos os condôminos para permanecerem dentro dos apartamentos ou, se estiverem fora do prédio, não entrarem, para evitar contato”, explica a síndica.
Outra realidade distinta enfrentou Júlio César Guimarães, síndico profissional que atua em 4 residenciais verticais na região de Barueri (SP) e, somando os condomínios que administra, tem atualmente 820 apartamentos sob sua responsabilidade com uma população aproximada de 2.200 pessoas.
Júlio destaca que, no seu caso, o grande desafio foi lidar com a paralisação de obras e reformas. “No início bloqueamos tudo, contudo fui surpreendido por duas liminares judiciais que exigiam que em 48h fossem liberadas as reformas sob pena de multa. Diante disso, tivemos que estudar a liberação com restrições rígidas de circulação e aglomeração dentro dos condomínios, sob pena de termos um efeito cascata de liminares e com isso aumentar um potencial risco jurídico e financeiro ao condomínio”, relata o síndico.
Ele conta que tal flexibilização descontentou os moradores que estavam em isolamento em suas casas e reclamaram dos riscos da circulação de pessoas e também do barulho. Essa última queixa, o síndico revela também ter sido um desafio a ser gerido durante a pandemia: “colocamos um horário reduzido para as reformas, permitindo uma janela maior de ‘silêncio’ para quem está em quarentena. Intensificamos as campanhas de bom senso para que não haja barulhos após as 22h, em que é instruído aos moradores colocarem feltros nos pés de mesas e cadeiras, evitar deixar cair objetos no chão, colocar tapetes pela casa para diminuir o barulho de passos, entre outros”, explicou Guimarães.