Por Francisco Monteiro
Algumas pessoas que residem nas comunidades condominiais, principalmente edifícios criticam, quase sempre injustamente, o síndico alegando falta de iniciativa e criatividade. Enfim, que não é capaz de criar coisas no edifício para que moradores se sintam estimulados a participar e a colaborar mais, o que não passa de um festival de demagogias.
Geralmente essas críticas têm origem em pessoas que não participam das assembleias e, num ato de covardia, fazem grupinhos para criticar. Surpreendido com as críticas a sua pessoa, o síndico, Dr. Paciente do Saco Cheio, convocou uma assembleia onde todos pudessem opinar livremente, para que as suas ideias “fascinantes” venham transformar o condomínio num verdadeiro paraíso.
Iniciada a assembleia, o síndico, Dr. Paciente do Saco Cheio, humildemente disse a todos que estava pronto a colaborar com as renovações, solicitando que cada um expusessem suas ideias.
Ideias – A primeira a falar foi a Srª Fofoquinha, que com seu vestido domingueiro, e a grossa maquiagem expôs o plano para que o edifício tivesse um jardim de vergonha, bem cuidado que chamasse a atenção dos visitantes. Finda a explanação florida, o síndico indagou se a autora da ideia estava disposta a pelo menos fiscalizar os serviços por ela proposto, mas a Srª Fofoquinha afirmou que não contava com tempo para isso, pois era uma mulher que trabalhava um expediente e outro dedicava aos três filhos menores.
Em seguida levantou-se o Dr. Economildo e falou largamente sobre o valor cobrado pela empresa de elevadores, e que deveria se achar uma solução para negociar uma redução no valor ou contratar outra empresa. Interpelado pelo síndico, Dr. Paciente do Saco Cheio, foi solicitando o seu empenho para tentar uma solução para o caso; e ele exclamou, célere: Oh! Eu? que graça! Tenho ideias mas não tenho tempo, pois trabalho os dois expedientes e, quando posso, vou cuidar das minhas coisas particulares.
Logo após, faz uso da palavra o Dr. Pamposo, que sugeriu a construção de um salão de festas e uma sala para ginástica; contudo, o síndico lhe pediu que solicitasse propostas para a apreciação numa outra assembleia, ouviu desapontado: a ideia é minha, porém eu não disse que posso executá-la. Além disso, sou uma pessoa doente e, devido as dificuldades, tenho que estar os dois expedientes na minha empresa.
Empregados – Mal terminado ergueu-se a Srª Prepotência, que lembrou ao síndico a necessidade de fiscalizar os empregados 24 horas por dia, pois já não aguenta mais circular pelas áreas comuns do prédio devido a sujeira, os empregados não trabalham, são imundos e se ela fosse a síndica as coisas seriam outras. Na oportunidade o síndico consultou-a da possibilidade de sua colaboração com a administração sendo importante a sua atuação na fiscalização dos empregados. A Srª Prepotência informou: o senhor acha que não tenho o que fazer? Sou uma mulher da sociedade e jamais vou tratar qualquer assunto com esses empregados.
Com um tom de voz alta, pediu a palavra o Sr. Recalcado e foi logo dizendo que o síndico deveria adotar providências no sentido de reduzir a cota de condomínio, que está um absurdo, sugerido, inclusive a dispensa da administradora e que cada um dos presentes desempenhasse uma tarefa na administração do condomínio.
Na mesma hora, um coral, Srª Fofoquinha, Dr. Economildo, Dr. Pomposo, e Srª Prepotência e o Dr. Inadimplente, em tom harmonioso, retrucaram: não contem comigo, não tenho tempo, não entendo nada de burocracia, e já basta os meus afazeres particulares. E tem mais, não trabalho de graça para ninguém.
Facultada a palavra, fez uso dela o Dr. Inadimplente dizendo aos presentes não pagar o condomínio porque existe uma infiltração do aptº superior e que o porteiro tratou mal a sua esposa, devendo o mesmo ser demitido. Tenho dinheiro, quatro carros na garagem, recentemente fiz uma excursão à Europa, e não preciso de dinheiro do condomínio. Quero alertar a todos que não admito ser cobrado pela administradora ou quem quer que seja, sob pena de entrar na justiça contra a pessoa.
E de cabeça a cabeça, as ideias pulavam entusiásticas e fascinantes, mas de boca em boca, todos se mostravam incompetentes e ineficientes.
Como se observou, todos se revelavam atarefados, doentes e alguns se diziam dominados por imperfeições.
Já pelas 3:30 horas, depois de tanta demagogia e conversação sem nenhum proveito, o síndico, Sr. Paciente do Saco Cheio, ao ver tanta ridicularidade ali presente, deu um sorriso e comentou: meus vizinhos, sem dúvida nosso edifício precisa de muita coisa; como poderemos fazer tudo isso se vocês se mostram inertes? Todos vocês possuem ideias providenciais, todavia, onde está a vossa coragem de torna-las realidades?
Imaginar, sonhar, sugerir e criticar às escondidas sem nenhum conhecimento de causa, procurando com essas atitudes desabafar sentimentos da vida pessoal e profissional desestimulando aqueles que defendem seus interesses é fácil, pois, fiquem sabendo e reflitam que só unidos venceremos barreiras, nos aproximaremos mais, solidificaremos as nossas amizades, valorizando o patrimônio de todos e mantendo o bom nome do nosso edifício.