Por André Resende
Publicado em 04/10/2024
Este mês, as eleições municipais vão mobilizar eleitores em todo o Brasil. Esse período é marcado por discussões políticas acaloradas, e nos condomínios residenciais o cenário não é diferente. A convivência entre vizinhos, muitas vezes com visões políticas divergentes, pode gerar conflitos. Diante disso, é importante que síndicos e síndicas estejam atentos e ajam de forma preventiva, garantindo que o espaço coletivo continue sendo um ambiente harmonioso e respeitoso, independentemente das preferências partidárias dos condôminos.
Para Júlio Guimarães, síndico profissional em São Paulo, é essencial que os gestores condominiais evitem que as áreas comuns sejam utilizadas para qualquer manifestação política ou partidária. Segundo ele, “os condomínios, enquanto entidades jurídicas, não devem se envolver com política, exceto nas interações necessárias com o poder público para buscar melhorias externas, como iluminação pública, pavimentação de ruas ou coleta de lixo. No mais, devem manter uma postura de neutralidade”.
Essa postura neutra é especialmente relevante em condomínios, onde há uma grande diversidade de moradores, cada um com suas preferências políticas e religiosas. Assim, a recomendação é que o uso das áreas comuns seja limitado a atividades que não envolvam esses temas sensíveis. “Se permitirmos que um candidato faça um evento em um salão de festas, teremos que abrir espaço para todos os outros. Isso pode gerar um ambiente de competição e atrito entre os moradores”, alerta Guimarães. Ele ainda ressalta que, além da questão política, essa regra pode se estender para questões religiosas: “se for permitido realizar uma missa, o mesmo deverá ser feito para outras manifestações religiosas, como cultos evangélicos ou eventos de outras tradições, o que pode acabar gerando conflito entre condôminos.”
Regimento – Para evitar esses problemas, a sugestão de Guimarães é que os condomínios reforcem essas questões no regimento interno e nas assembleias. Incluir cláusulas que proíbam a realização de eventos políticos e religiosos nas áreas comuns é uma forma de garantir que todos os condôminos tenham seus direitos respeitados, sem que o ambiente comum se transforme em um palco para discussões acaloradas. A neutralidade do condomínio, segundo ele, é uma forma eficiente de garantir a convivência pacífica.
Outro ponto que merece atenção dos síndicos e síndicas é a divulgação de materiais de campanha nas dependências do condomínio. De acordo com Guimarães, é comum que candidatos que moram no condomínio ou têm amigos e parentes entre os condôminos queiram distribuir folhetos ou colocar banners em áreas comuns. Contudo, ele afirma que essa prática também deve ser desencorajada. “O ideal é que essa questão seja discutida em assembleia, para que todos estejam cientes das regras e possam opinar. O mais indicado é proibir a divulgação de qualquer material de campanha em áreas comuns, mesmo que o candidato seja morador do condomínio”, sugere.
Comemorações – Além disso, as festas e eventos em comemoração a resultados eleitorais também podem causar problemas. Se um morador decide comemorar a vitória de seu candidato nas áreas comuns, isso pode ser interpretado como uma manifestação política, o que pode causar desconforto em outros moradores que apoiam candidatos diferentes. “Isso pode gerar tensões desnecessárias. Por isso, é importante que o síndico esteja atento e proíba esse tipo de evento em áreas coletivas, para que o ambiente não seja contaminado por essas disputas políticas”, comenta Guimarães.
Outro aspecto que merece cuidado é o uso de grupos de mensagens, como WhatsApp, pelos moradores. Muitos condomínios já utilizam esses grupos para facilitar a comunicação entre o síndico e os condôminos, mas eles podem acabar se tornando um espaço para discussões políticas. “Os grupos de condomínio não são o lugar para debates eleitorais. A administração deve deixar isso claro desde o início, para evitar que o grupo, que deveria ser utilizado para resolver questões práticas do condomínio, se transforme em um campo de batalha virtual”, afirma o síndico.
No entanto, mesmo com todas essas precauções, é importante que as regras adotadas respeitem a pluralidade dos moradores. Guimarães sugere que síndicos e síndicas promovam discussões abertas e transparentes sobre o tema, dando a todos os moradores a oportunidade de expressar suas opiniões. Isso pode ser feito por meio de assembleias ou mesmo através de consultas formais, que ajudem a construir um consenso sobre as regras a serem seguidas durante o período eleitoral. “O ideal é que essas regras sejam claras e respeitem as diferenças. O objetivo não é silenciar ninguém, mas garantir que todos se sintam respeitados e que o convívio no condomínio não seja prejudicado por discussões políticas acirradas”, conclui.
Prevenção – A experiência de Guimarães em eleições anteriores mostra que, ao adotar essas medidas de prevenção, é possível passar por períodos eleitorais sem grandes problemas. “Nos últimos anos, as eleições no Brasil têm sido extremamente polarizadas, e isso tem refletido no dia a dia dos condomínios. Mas, ao estabelecer regras claras e promover o diálogo, conseguimos evitar conflitos. O papel do síndico é justamente esse: mediar as relações e garantir que o condomínio continue sendo um espaço de convivência saudável”, reflete o síndico.
Assim, os síndicos e síndicas de todo o país devem se antecipar aos desafios que as eleições podem trazer, promovendo o bom senso, a harmonia e o respeito às diferenças, sempre com foco no bem-estar coletivo. Garantir que o condomínio seja um ambiente neutro e isento de tensões políticas é uma forma de proteger a convivência pacífica e assegurar que as discussões políticas fiquem fora das áreas comuns e do cotidiano do condomínio.
*Jornalista