Por André Resende
Publicado em 03/02/2025
O Carnaval está chegando e com ele a folia que toma as ruas de várias cidades por todo Brasil. Entretanto, a alegria de alguns em poder curtir o Carnaval, em alguns casos, pode também significar a perda temporária de sossego para os que não gostam tanto assim da festa. Muitos condomínios ficam localizados em avenidas e ruas por onde desfilam blocos e, por isso, precisam se adequar aos festejos.
Tadeu Costa é síndico de um edifício na região hospitalar, em Belo Horizonte, por onde os blocos carnavalescos passam. Ele conta que durante o Carnaval alguns transtornos acabam afetando a rotina dos moradores do condomínio, como o barulho, sujeira no entorno do prédio, problemas no trânsito, e dificuldade para que alguns moradores, sobretudo os idosos, saiam de casa por medo de assaltos.
Prejuízos – “Todos os fatos mencionados significam prejuízos para os condomínios da região e seus moradores. Até mesmo o valor dos imóveis pode ser afetado pela existência do Carnaval na região”, comenta Tadeu Costa. A dinâmica do Carnaval também acaba gerando custos adicionais para o condomínio, como explica o síndico.
“Diversos condomínios têm jardins, muretas baixas e fechamento em vidro; portanto, é necessário alugar grades de proteção para fechar estas áreas e minimizar os riscos. Muitos condomínios precisam contratar funcionários extras, como vigias e porteiros noturnos, também para tentar minimizar os riscos que a movimentação carnavalesca acarreta. A dificuldade de sair com veículos particulares das garagens faz com que muitas vezes os moradores tenham que arcar com os custos de outras modalidades de transporte, como Uber e táxis; entretanto, as precárias condições do trânsito também costumam impedir a prestação destes serviços de transporte”, reclama.
Paulo Márcio que é condômino no Edifício Tordesilhas, na região as Savassi, uma das mais impactadas pelo carnaval concorda com o síndico. Segundo ele, “esse é um tema importante para propor mudanças dos locais dos foliões. No modelo em vigor, os moradores da região da Savassi não têm como se locomover, seja de carro próprio ou táxi (a não ser em locais distantes). E ainda tem os custo dos condomínios em bancar segurança no entorno dos prédios; ruas transformadas em banheiros; a libertinagem e desrespeito generalizado” afirma.
Para o síndico Tadeu, o problema da região onde está localizado seu edifício se dá também por se tratar de uma região hospitalar. A solução do problema, na opinião do síndico, é transferir qualquer programação carnavalesca para outra área da cidade.
“Então, me parece totalmente inadmissível que as pessoas internadas sejam submetidas ao ruído típico das festividades de Carnaval. A solução seria impedir qualquer festividade carnavalesca na região hospitalar de Belo Horizonte e em seus arredores, transferindo os eventos para diversas regiões que não são residenciais nem possuem serviços de assistência médica”, enfatiza.
Outro lado – Mas há quem afirme que o Carnaval pode ser até uma oportunidade para agregar os moradores. Charles William é membro da Comissão Executiva do Residencial Maria Stella, no bairro Guarani e também um dos diretores do Bloco Pipixo, que nasceu no condomínio. “Começou com moradores e já chegamos a colocar quase três mil pessoas no evento. O bloco tem a logo do condomínio e sempre terminamos o trajeto na portaria do Conjunto. Tudo transcorre na maior tranquilidade e somos cadastrados junto à Belotur, PMMG, Bombeiros e Bhtrans.
Prevenção – O advogado especialista em direito condominial, Rodrigo Karpat, alerta em artigo que os síndicos devem estar atentos para proteger o patrimônio do prédio e prevenir problemas.
“Nos últimos anos, temos observado relatos de depredações nas fachadas dos condomínios, especialmente aqueles que ficam no trajeto dos blocos. Por isso, o síndico precisa se antecipar e avaliar os riscos na região”, explica Karpat. Ele sugere, como já alertou Tateu Costa, a contratação de segurança extra e, no caso de fachadas de vidro, a instalação de tapumes como medidas de proteção.
A preocupação não é apenas com a estrutura do prédio, mas também com os jardins, portões e canteiros. “É comum que foliões, especialmente quando estão alcoolizados, causem danos ou comprometam a higiene em frente ao condomínio, como urinar em locais inadequados”, destaca. Nesse cenário, é recomendável cercar áreas verdes e reforçar a limpeza e segurança.
Para evitar transtornos, o especialista também sugere que o síndico oriente os moradores sobre os horários dos blocos e, se possível, recomende que evitem circular pelas proximidades durante os momentos de maior aglomeração.
No condomínio – Além dos problemas externos, o Carnaval também pode gerar situações adversas dentro do condomínio. Segundo Karpat, é comum que os moradores utilizem as áreas comuns, como churrasqueira e salão de festas, para confraternizações. “Para evitar conflitos, é fundamental que o síndico reforce as regras de uso das áreas comuns, como horários permitidos, limite de convidados e cuidados com o barulho”, pontua.
A prevenção continua sendo a melhor forma de manter a harmonia durante o Carnaval. “O síndico deve saber lidar com situações adversas e planejar com antecedência. Medidas como uma comunicação clara com os moradores e a implementação de proteções físicas podem garantir um Carnaval tranquilo para todos”, conclui Karpat.
*Jornalista
A Prefeitura de Belo Horizonte anunciou uma ampla operação para garantir a segurança, organização e limpeza durante o Carnaval de 2025. De acordo com o comunicado oficial, a Guarda Civil Municipal atuará na segurança preventiva comunitária, com a missão de combater o vandalismo, proteger o patrimônio municipal e fiscalizar as leis de trânsito. A medida busca assegurar a tranquilidade tanto dos foliões quanto dos moradores e demais pessoas que circulam pela cidade, mesmo aquelas que não participam dos eventos carnavalescos.
“As rondas preventivas permitem minimizar impactos na rotina dos ocupantes de prédios residenciais e comerciais”, destacou a Prefeitura, reforçando a integração da Guarda Civil Municipal com outros servidores públicos encarregados de fiscalizar o cumprimento do Código de Posturas. Entre as ações planejadas está a coibição da atuação de vendedores ambulantes não licenciados.
Trânsito – Para atender à extensa programação dos blocos de rua, a BHTrans implementará uma operação especial que prevê a delimitação de áreas reservadas para os desfiles, com interdições e desvios no trânsito e no transporte público. “Os bloqueios de vias só serão liberados após a limpeza e a confirmação de segurança para pedestres e veículos”, informou a administração municipal.
Equipes da Unidade Integrada de Trânsito – formada pela BHTrans, Guarda Municipal e Polícia Militar – estarão nos locais dos desfiles para orientar moradores e foliões. O planejamento também assegura que “os acessos de moradores e comerciantes dentro das áreas de desfile serão preservados”. Informações detalhadas sobre as interdições e desvios estão disponíveis no Portal da Prefeitura e são divulgadas pela mídia.
Fiscalização – Cerca de 700 profissionais atuarão na fiscalização e no controle urbanístico e ambiental antes e durante o Carnaval. As atividades incluem a campanha educativa “Carnaval é na lata”, destinada a orientar comerciantes sobre o uso de embalagens seguras para bebidas e alimentos. A fiscalização também combate eventos não licenciados, obstruções de passeios, poluição sonora e a presença de ambulantes irregulares.
“Os fiscais trabalham para garantir a desobstrução das vias, tanto para a passagem dos blocos quanto para a limpeza e a circulação de pedestres e veículos após a folia”, enfatizou o comunicado.
Limpeza urbana – A Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) também preparou uma grande operação para manter a cidade limpa durante o Carnaval. Cerca de 1.400 garis foram contratados especialmente para o período e trabalharão na limpeza antes, durante e depois dos desfiles. “A SLU também realiza um trabalho educativo com ambulantes e foliões para o descarte correto do lixo”, explicou a Prefeitura.
Os organizadores dos blocos de rua também participam das ações, promovendo mensagens educativas sobre o uso correto de lixeiras e banheiros químicos em suas redes sociais. Durante os desfiles, essas orientações são reforçadas diretamente aos participantes.
Com essa estrutura integrada de segurança, fiscalização, trânsito e limpeza, Belo Horizonte espera receber milhares de foliões, garantindo uma festa organizada e segura para todos os envolvidos.
Síndicos e sindicas opinam sobre os impactos do Carnaval em seus condomínios
Carlos Antônio – síndico do Cond. São Carlos, no Centro – Nosso prédio se localiza na Praça Sete: tumulto/barulho, sujeira na rua, já aconteceu de quebrar vidros na portaria, além da vigilância que tem que ser reforçada, por causa de pequenos roubos.
Beatriz Nogueira – ex-síndica do cond. Summertime, na Savassi – Morar na Savassi é ótimo, mas, durante o Carnaval, várias ruas são bloqueadas e, em alguns momentos, chegar e sair do condomínio se torna uma missão impossível devido ao fechamento de quase todas as ruas ao nosso redor. Outro incômodo é a sujeira. Alguns foliões usam nossa calçada e canteiros como banheiro e o cheiro de urina é muito forte e afeta a salubridade de nossas residências. Isso poderia ser solucionado por meio de uma melhor distribuição de banheiros químicos e uma limpeza urbana diária nas calçadas. Pagamos o IPTU mais caro de BH, e, se a Prefeitura e o comércio auferem resultados com o Carnaval em nossas ruas e calçadas, eles deveriam ter um cuidado maior com os moradores da Savassi. A segurança nas ruas é outro ponto crítico. Durante o período de carnaval (e pré carnaval), há muitos assaltantes, trombadinhas e bêbados assediando os transeuntes. Os moradores ficam com medo de circular e, somando-se ao trânsito impedido, acabam ficando reféns dentro de suas casas.
Vicente – Síndico do Cond. Ronaro Araújo, no Sion – Existem blocos que passam na rua e os participantes sujam nosso jardim (tivemos que inclusive fechá-lo com vidro), deixam a rua imunda sendo que a limpeza municipal limpa somente ao término do evento. Muito transtorno!
Anderson – Síndico do cond. Rodrigo Leonardo, no Castelo – Mais ou menos! Sempre tem carros em frente à garagem e como tem blocos na rua acima, pessoas descem e jogam lixos até dentro das grades do prédio.
Margarida – Síndica do Cond. Flaviana, no Carmo – O carnaval tira a mobilidade na região centro-sul. Nem todos participam do carnaval. Como o folião tem o seu espaço, as pessoas que pagam o maior IPTU da cidade de Belo Horizonte, também deveriam ter o direito de ir e vir. A construção civil por exemplo, não vê o carnaval como feriado, assim como nossos decretos e leis também não veem, e tem empresa que toma a lei ao pé da letra, sendo assim o carnaval nas ruas, impedindo a circulação, prejudica os trabalhadores de chegarem em seu local de trabalho. Gosto de carnaval, participo, acredito que trás receitas para a cidade, mas deveria ter regras, locais de forma a não impedir as pessoas de ir e vir. Eu mesma morando na Savassi a mais de 20 anos, não consigo fazer um supermercado. Se passar mal não tem como colocar a pessoa dentro do carro e levá-la ao hospital. Fora os banheiros públicos, concentrados em alguns locais e faltantes em outros. Gerando um mal cheiro sufocante. Para uma cidade que só tem o IPTU e alguns impostos como arrecadação, a prefeitura junto ao governo do estado, deveria encontrar formas de trazer indústrias, comércios e serviços para a cidade, incrementando a receita municipal.
Wilton – Síndico do Cond. Britânia, no Santo Antônio – infelizmente! A sujeira que os foliões fazem na rua, principalmente com as necessidades físicas, deixando uma sujeira nos passeios, que automaticamente sobrecarrega as funcionárias da limpeza.
Desirée – Síndica do Cond. Boa Esperança, no Caiçara – Não é! Mas sou também Guia de Turismo e, na época do Carnaval, é quase impossível de se fazer um City Tour em BH. No ano passado eu tive essa experiência e não foi nada fácil.
Gislaine Ferreira – Gestora Empresarial Inconfidentes, na Savassi – Hoje administro um condomínio empresarial na Savassi, e somos muito afetados pelo carnaval, pois temos que realizar uma estrutura de restrição de fluxo e acesso para evitar que as entradas e passeio virem banheiros e afins dos foliões. Isso sem contar na dificuldade de acesso ao local durante as festividades e pré carnaval, onde algumas ruas são fechadas bloqueando alguns acessos e aumentando o engarrafamento na região.
Antônio – Morador no Maria Luiza, no São Pedro e síndico profissional do Iko – Não somos impactatos diretamente, porém no bairro, no último ano, houve espaços em ruas para o Carnaval, atrapalhando o trânsito.
Nina – Conselheira do Cond. Marena, no Centro – Nosso condomínio é muito impactado. Fica na Av. Amazonas esquina da rua da Bahia. Cada ano a gente tenta mais soluções para que os moradores fiquem mais seguros e tentamos também atitudes para não aumentar demais a conta de água e de luz no condomínio. Alguns moradores trazem muitas pessoas que eles conhecem no carnaval, não sabem nem o nome, entram tomando bebidas, entornam nos corredores, nos elevadores. Usam drogas, vomitam, fazem sexo, caem de tontos nos corredores. Tomam banhos, aumentando a conta de água. Trazendo vários transtornos. A gente coloca dois seguranças, faz um cadastro dos visitantes. Mas os moradores chegam e falam “está comigo” e você não tem como impedir. Este ano por sugestão de um morador, vamos tentar também pulseiras de identificação. Vamos vê o que vai dar.
Adriana – Síndica do Cond. Future Tower, no Barro Preto – Somos um prédio comercial que fica na Av. Augusto de Lima, em frente ao Fórum. A rua aqui é geralmente fechada (nosso quarteirão). O impacto é o numero de pessoas na porta de entrada do prédio, a música alta, o cheiro forte de urina e sujidade todas as manhãs.
Maria do Socorro – Síndica do cond. Carandaí, no Funcionários – Sim! E muito. Carros não entram e nem saem das garagens. Além dos banheiros químicos que ficam depois do carnaval até 5 dias. Urina nas calçadas, as grades dos prédios. E mal cheiro insuportável.