Quando se mudou para o apartamento em que morou logo após ter se casado, o jornalista Marcos Tadeu Santos não imaginava que a vizinha de parede também iria participar da sua rotina.
Por conta das paredes finas, ela podia ouvir tudo o que se passava, não só no dele, mas também nos apartamentos de outros moradores. Como não suportava barulho, a vizinha brigava com os outros condôminos para diminuírem o volume da TV, não deixarem coisas caírem no chão e nem rirem ou conversarem muito alto. “Era sempre um transtorno, porque ela não suportava qualquer barulho. Dava socos na parede ou gritava com alguém pela janela sempre que qualquer ruído a incomodasse”, diz ele.
Marcos mudou-se para outro edifício, de padrão um pouco melhor, mas mesmo assim, teve que se acostumar com o barulho dos outros apartamentos. “A minha vizinha de cima gosta de andar de tamanco e arrastar móveis a noite. Mas pelo menos, ninguém bate na parede sempre que o outro faz um barulho a mais”, conta ele, um pouco mais conformado.
Novidade – A partir de novembro, o desconforto entre vizinhos por causa do barulho deve diminuir significativamente. É que passa a valer na prática a norma NBR 15.575-3 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A norma de desempenho estabelece um novo coeficiente de ruídos nas construções, justamente para aumentar a privacidade dos moradores das unidades, evitando que vizinhos ouçam conversas ou se incomodem com barulhos de saltos altos no piso.
A norma está em vigor desde o dia 12 de maio deste ano, mas foi dado prazo de 180 dias para que as empresas possam adequar os projetos. De acordo com o professor adjunto do departamento de Engenharia de Estruturas da UFMG e consultor em engenharia acústica, Max de Castro Magalhães, não havia normas de desempenho para as edificações. “Com essa nova norma, as construtoras são obrigadas a atender a níveis mínimos de isolamento sonoro”, explica.
Ainda assim, a norma não estabelece quais os materiais que devem ser usados, mas determina o desempenho a ser alcançado pela edificação. Alguns materiais mais comuns são as espumas acústicas, forros de lã de rocha ou de vidro ou até chapa de gesso acartonado. Numa unidade de padrão popular, o nível de pressão sonora de impacto padronizado, que determina a capacidade de isolamento sonoro dos pisos, deve ser menor que 80 decibeis. Já para unidades de padrão superior, o índice deve ser menor que 55 decibeis. Segundo o professor Max, a diferença se deve à qualidade de materiais e técnicas. Quanto mais eficientes, mais cara é a construção.
O professor explica que, apesar do conforto acústico poder encarecer as edificações, as construtoras devem investir na estrutura. “Vai ser o diferencial e o consumidor vai ser o maior fiscal disso. Ele vai dar preferência para apartamentos com isolamento acústico. O consumidor não quer barulho de vizinho incomodando”, diz ele.
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Normas também para durabilidade de materiais
A NBR 15.575-3 também determina parâmetros de desempenho para outros componentes da edificação, com o objetivo de garantir que o desempenho superior dos materiais empregados na obra seja correspondente ao prometido no projeto. Ela define que os pisos tenham que durar pelo menos 13 anos; a estrutura deve estar preservada durante 40 anos; a cobertura e os sistemas hidráulicos, 20 anos, conforme o quadro abaixo: