Sacadas e varandas e seus perigos

Sacadas e varandas e seus perigos

Publicada em 22/05/2024

 

Elas se tornaram, nos últimos anos, a vedete dos apartamentos, consideradas extensão da sala. Com isso, as sacadas e varandas preocupam projetistas estruturais, já que muitos móveis e concentração de pessoas podem comprometer a segurança do espaço. É um problema para prédios antigos e novos.

 

Churrasqueiras, móveis, jardineiras, grandes vasos: com apartamentos cada vez menores, surge a necessidade de valorizar os espaços externos, levando à permanência prolongada nas sacadas residenciais. Elas transformam o espaço numa extensão natural da sala e algumas vezes ultrapassam a carga suportada por estruturas que trabalham isostaticamente e com armadura negativa, servindo como alavancas das lajes. As concentrações localizadas dessas cargas podem gerar esforços acima dos previstos e causar sérias patologias estruturais, inclusive desabamentos. Em São Paulo, por exemplo, há registros de vários casos de acidentes estruturais em locais de conservação deficiente ou precária.

 

Entre os projetistas estruturais, o consenso é de que o problema não está nos edifícios mais novos, que já preveem a instalação de churrasqueiras e outros itens. A questão são os espaços que, originalmente, em prédios mais antigos, não previam essa utilização.

 

Perigo – Qualquer interferência na sacada, por mais inofensiva que possa parecer, deve ser acompanhada por um especialista. Na verdade, ninguém liga para a questão física. Condôminos se preocupam apenas com a autorização dada pelo condomínio para fazer alterações na fachada, mas não se preocupam nos danos que isso pode causar.

 

Especialistas afirmam que existem dois tipos de varanda, uma que tem seu peso estruturado em cima de vigas e outra em cima da laje. A primeira é mais resistente, mas somente um engenheiro especializado sabe qual das duas foi construída no apartamento. Há algumas dicas, no entanto, que podem auxiliar quem quer curtir a sua sacada sem se expor ao perigo: quanto mais próximo da ponta colocar peso, pior para a estrutura. Uma laje residencial aguenta em média 150 quilos por metro quadrado.

 

Não são pouco comuns os absurdos a que as pessoas submetem às varandas: colocar uma mesa de jantar é compreensível, pois pesa menos do que uma pessoa e ocupa um espaço enorme. Mas há quem abuse: uma caixa de amianto com terra, com uma planta imensa. Isso pode pesar mais de 150 quilos, num espaço pequeno. Mesmo uma piscina para crianças pode ter risco. Dependendo da quantidade de água, num espaço pequeno, pode ajudar a abalar a estrutura.

 

 

Desabamentos – A rigor, o risco de acidentes e desabamentos relacionados às ações dinâmicas é baixo nas sacadas residenciais, mas condomínios devem alertar os moradores para o uso correto das sacadas quanto aos riscos de se mobiliar a área e promover a ocupação excessiva do local.  A simples concentração de pessoas dançando numa sacada, teoricamente, não a fará desabar em uma festa, a menos que seja utilizada “como um trampolim de piscina, de forma proposital. Em uma sacada não projetada para isso, se as pessoas ficarem pulando, os limites de sobrecarga podem ser ultrapassados significativamente, podendo causar problemas sérios estruturais.

 

As estruturas costumam avisar quando estão sobrecarregadas: deformações, fissuras, trincas e estalos são sinais de que algo vai mal. Mas nem sempre as estruturas dão esses sinais antes dos acidentes.

 

Manutenção – Sacadas, terraços e marquises sofrem com a ação do tempo, por estarem ao ar livre. Por isso, as impermeabilizações desses locais devem funcionar adequadamente, evitando a penetração de umidade no concreto e a consequente oxidação das armaduras, sua perda de seção, deformação da estrutura e até mesmo sua ruína a médio ou longo prazo. Considera-se também que os agentes agressivos são hoje muito mais intensos do que há algumas décadas, o que resulta na deterioração natural das estruturas.

 

Por estarem na face superior da laje, as fissuras podem acumular agentes agressivos e induzir a corrosão da armadura. Se não evitada, essa corrosão pode levar a laje à ruína, mesmo que não haja sobrecarga. Evidentemente, uma laje mais solicitada do que o normal fissurará mais e acelerará esse processo. A manutenção deve controlar a existência das fissuras e seus regimes de “seco e molhado”, o que poderá acelerar a corrosão, com a perda de seção das armaduras e da capacidade resistente da laje.

 

Há uma espécie de acomodação da sociedade no que diz respeito à manutenção preventiva de estruturas. Há uma necessidade urgente de aprovação e cumprimento de leis específicas para vistorias em sacadas e marquises, para que a segurança da população não seja ameaçada.

*Jornalista